Texto de Arthur Menicucci colaborador especial TOE
Com
o fim das Olimpíadas muitas são as conclusões possíveis de serem tiradas,
algumas positivas e outras nem tanto. As opiniões a cerca do resultado dessa
edição dos jogos varia de acordo com as expectativas geradas antes do inicio do
maior espetáculo do esporte mundial. A seguir, já aviso, uma conclusão que leva
em consideração toda a preparação e o incentivo que este país dá, de modo
geral, aos seus atletas.
Os
jogos Olímpicos começaram de forma surreal para os brasileiros. Na primeira
manhã, três medalhas, uma de cada cor. O
judô, sempre importante fonte de medalhas para o Brasil, surpreendeu
conquistando o primeiro ouro no feminino, com a guerreira Sarah Menezes. Como
se fosse pouco, Felipe Kitadai, disputando sua primeira Olimpíada e recorrendo
muito ao espirito esportivo e a força de vontade, conquista um excelente bronze.
Já
Thiago Pereira, que sempre foi muito bem em jogos continentais, logrou uma
medalha de prata nos 400m Medley e fechou o melhor primeiro dia de uma
Olimpíada para o país.
O
judô, no geral, deu bons resultados. Além das duas medalhas no primeiro dia, os
judocas conquistaram mais dois bronzes, com Mayra Aguiar e Rafael Silva, além
das boas participações de Tiago Camilo, que luta na categoria mais equilibrada
do esporte e ficou em 5º, de Rafaela Silva, eliminada por uma regra sempre
alterada e muito discutida, e Maria Suelen, peso-pesado, que também ficou na 5º
colocação.
A
natação, que já ganhara visibilidade graças a Cesar Cielo, em Pequim, ficou
mais valorizada depois da medalha de Thiago Pereira no primeiro dia de Londres,
e as esperanças cresceram. Mas Cielo, talvez por erro na estratégia, ficou
apenas com o bronze nos 50m livre e não medalhou nos 100m. Apesar do bronze, a
impressão de que poderia ter sido melhor ficou explícita.
Na
ginástica, os irmãos Hypólito não chegaram nas melhores condições para a
disputa e falharam. Diego, sempre muito cobrado por conquistar resultados
expressivos nos mundiais, chegou saturado de contusões. Para o pesquisador da
Unicamp e especialista em ginástica artística, Marco Antonio Bortoleto, as
falhas nos jogos se devem a preparação destes atletas: "Mas os ginastas
brasileiros, muitos dos quais já tem uma idade mais avançada, estão chegando na
competição já machucados, desgastados e com menos suporte do que os atletas de
outros países. O fator psicológico é mais forte quando já existem outros
problemas, quando já chegam com medo de se machucarem.", afirmou à BBC
Brasil.
Ainda
para Bortoleto, falta suporte aos clubes para a formação de novos atletas e
infraestrutura para o preparo dos ginastas de alto rendimento.
A
ginástica artística brasileira depende de grandes empresas que patrocinam
somente ginastas que já conquistaram resultados internacionais e os utilizam
para publicidade exagerada, gerando visualização excessiva. Aos mais novos,
sobram as boas ações de ex-atletas que, mesmo sem ter muito patrimônio,
promovem programas de incentivo com o próprio suor. Enquanto essa perspectiva
não mudar, os resultados serão os mesmos e os ginastas continuaram sofrendo com
lesões por todo o corpo e com críticas que nunca mereciam.
Arthur
Zanetti, com um dom além do excepcional, venceu todos os problemas e trouxe uma
medalha dourada nas argolas. Méritos para ele, para seus técnicos e
companheiros de treino.
Outro
brasileiro com um dom natural de dar inveja em qualquer atleta que recebe muito
mais apoio, Sérgio Sasaki, ficou com a 10ª colocação e fez história, sendo o
primeiro brasileiro a disputar a final do salto.
O
vôlei de quadra, com o ouro feminino e a prata masculina, fechou uma Olimpíada
excelente para o esporte, provando que ainda somos os melhores do mundo. Poucos
dias antes do tradicional vôlei de quadra, o vôlei de areia, com Alison e
Emanuel e Juliana e Larissa, também fizeram muito bem seu papel e conquistaram
a prata no masculino e o bronze no feminino. Talvez, não fosse o desequilíbrio
psicológico da dupla feminina na semifinal, pois ganhavam o jogo com
facilidade, a modalidade poderia voltar com medalhas ainda mais significativas.
Sobre
Robert Scheidt, apenas enaltecer o quanto um esportista que conquista sua 5ª
medalha olímpica seguida merece receber elogios e ser exemplo em seu país. Ao
lado de seu parceiro Bruno Prada, a medalha de bronze deveria se orgulhar de
estar em ombros tão vitoriosos. Parabéns.
Futebol
masculino também conquistou uma medalha importante. A prata, terceira do
futebol na história, também ficou com ares de ter sido pouco. Partindo do ponto de que em uma seleção de
futebol se leva os melhores de cada posição, fazer improvisação de lateral no
meio de campo é pouco explicativo, independente de quem seja. Montar uma
seleção sub23 com três jogadores mais velhos e um desses, nos últimos dois
jogos, começar no banco, também é difícil de entender. Portanto, apesar de
todas as críticas a cerca da supervalorização dos atletas, faltou preparação e
tática por parte da comissão técnica.
Planejamento
que também pode ter faltado ao basquete masculino, mas em outro setor. Entrar
em um campeonato com, pelo menos, quatro seleções com melhor nível técnico que
o seu requer utilizar as regras desta competição ao seu favor. Em um esporte
como o vôlei, no qual o Brasil é hegemonia, escolher adversário é sempre pensar
no fácil, além do mau agouro. Porém, em um esporte como o basquete,
necessita-se de jogar com o que o regulamento te dá de armas, e sobre isso se
entende, sim, escolher cair em uma chave mais fácil para poder beliscar,
talvez, uma medalha. O Brasil venceu a Espanha de forma brilhante, mas caiu
diante da Argentina e voltou pra casa.
E
o que dizer a respeito do Boxe? O esporte que mais surpreendeu. Como é
possível, com tão pouco apoio e incentivo por parte do governo, essa modalidade
trazer três medalhas de Londres? Entende-se que o trabalho de terceiros esteja
sendo bem feito. Ao chegar no Brasil, os Falcão e a Adriana Araújo devem ser
vistos como exceções muito bem sucedidas, e rezar para que as medalhas desta
Olimpíada não resultem em cobranças para a próxima. O depoimento da pugilista
medalha de bronze para o jornal Folha de
S. Paulo revela qual a condição desse esporte no país: "A Confederação
tem que ver os atletas que tem no Brasil e parar de ficar criticando. O boxe
precisa ser mais valorizado", disse Adriana Araújo, afirmando que foi
desvalorizada pelo presidente da CBBoxe antes da competição.
"Ele
despreza o boxe, não só o masculino, mas o feminino também. Ele me desvalorizou
várias vezes. Ele disse várias vezes que eu não tinha capacidade de conquistar
uma medalha, que eu não tinha capacidade de estar aqui", acrescentou.
"Não caí aqui de paraquedas. A medalha de bronze é a maior prova
disso".
E
Fabiana Murer, Marta, Daiane dos Santos, Harumy de Freitas, Cristiane, Érika, Fernando Saraiva,
Jaqueline Ferreira, Álvaro de Miranda Neto, Luiza Almeida, Rodrigo Pessoa, Bruno Mendonça, Erika Miranda, Leandro Guilheiro, Luciano Corrêa, Maria Portela, Lara Teixeira e Nayara Figueira, do nado
sincronizado, Kissya Costa, César Castro, Juliana Veloso, Diogo Silva, Natália Falavigna, André Sá, Bruno
Soares, Marcelo Melo, Thomaz Bellucci, Gui Lin, Gustavo Tsuboi, Hugo Hoyama, Lígia
Silva, Thiago Monteiro, Marilson dos Santos, Frank Caldeira e tantos outros
atletas que foram a Londres disputar e representar o país? Alguns, de fato,
sentiram a pressão e decepcionaram. Outros lutaram com que tinham e, mesmo
assim, não foi suficiente. Muitos, no entanto, deveriam ser reconhecidos como
verdadeiros vencedores, pois deixaram para trás mais obstáculos do que nós
todos imaginamos para garantir a participação nos Jogos.
Yane
Marques faturou o bronze no Pentatlo Moderno no último dia dos Jogos Olímpicos
de Londres 2012 e fechou uma participação brasileira marcada por muito esforço,
força de vontade, algumas lágrimas e um quadro que, salvo poucas melhoras,
ainda tímidas, se expõe em todas as edições dos jogos: a falta de incentivo e apoio
por parte dos responsáveis pelos esportes olímpicos no Brasil. Percebemos que,
quanto a material humano, o Brasil é um celeiro de talentos esperando para ser
explorado.
Pode
ser idealismo capitalista, mas funciona. Como um investidor de sucesso na região
de Campinas me respondeu, quando perguntado se esporte era investimento, pois
muito japonês com pouca envergadura física vence muito brasileiro privilegiado
pelo corpo: “Tudo é investimento.”.
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